Cubo Mágico

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‘Com o tempo, também não houve mais interesse’

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Dei uma entrevista sobre Second Life para o TCC de uma estudante de jornalismo de São José dos Campos. Tudo bem que, um ano depois, talvez não seja a melhor hora para estudar o tema. Mas é a velocidade da academia. Veja as respostas.

1) Você foi contratado especialmente para trabalhar como jornalista dentro do SL ou você já trabalhava na mesma empresa? Se já, como foi essa mudança entre ser um jornalista no mundo real e passar a ser no virtual? Sim, fui contratado especialmente para atuar dentro do SL. Na prática, não houve tanta mudança. Os conceitos jornalísticos e a técnica se mantêm em qualquer que seja a área (ou o mundo) de cobertura. No SL também é necessário saber o que é notícia, quais os aspectos éticos ali implicados e o que está em jogo na divulgação pública de informações. Muda só a plataforma. Muita gente hoje, no jornalismo convencional, usa o MSN para fazer entrevistas. Qual a diferença para o chat do SL a não ser o universo 3D? Nenhuma.

2) Como foi sua experiência dentro do Second Life e quando criou seu avatar? Está atuando ainda dentro do metaverso? Criei meu avatar bem antes de ser contratado para trabalhar lá dentro. O interesse inicial foi a diversão e um sentimento típico de “early adopter” – usar a novidade assim que é lançada, comportamento que tenho até hoje com serviços e produtos digitais. A experiência lá foi como a de muitos usuários: fui atrás de dinheiro e de formas de gerar conteúdo colaborativo relevante. Fiz algumas reportagens para um outro jornal em que trabalhava, o Diário da Região, em S.J. do Rio Preto/SP, passei a colunista de internet e SL e, depois, fui chamado pelo Estadão. Hoje, não atuo mais no metaverso como jornalista.

3) Quanto tempo fica online dentro do SL? Hoje, nem um minuto. O SL não faz mais parte da minha vida.

4) Usava seu avatar somente para o trabalho ou também como finalidade de jogar? Depois de contratado pelo jornal, só usei meu avatar com finalidade de trabalho. Não por causa de qualquer orientação nesse sentido, mas porque não dava mais tempo de “jogar” (embora não fosse um jogo propriamente dito). Com o tempo, também não houve mais interesse.

5) Sente realmente que viveu uma segunda vida dentro do SL? Não. Tenho uma opinião um pouco radical sobre isso. Muito pouca gente viveu de fato uma segunda vida lá – e, se diz que viveu, na minha visão está iludido com o formato. Simplesmente não há uma segunda vida a ser vivida. Daí veio muito do fracasso que hoje se vê no SL. Pensar o programa como uma tentativa de colocar a terceira dimensão na internet ou até de compartilhar conhecimento é mais justo e útil do que imaginar que ele serve para as pessoas se recriarem e buscarem outros sentidos para a vida. Eu teorizo melhor sobre o assunto numa reportagem grande no Link de 7/jan: https://cubomagicoblog.wordpress.com/2008/01/07/a-segunda-vida-ja-era-o-que-vem-agora/

6) Na sua opinião, o que leva as pessoas a criarem uma segunda vida através da internet e por que elas estão deixando de viver em sociedade para ficar na frente de um computador interagindo com outras virtualmente? Elas não estão deixando de viver em sociedade para ficar na frente de um computador. Quem faz isso (são pouquíssimos) tem certamente problemas de ordem psicológica (timidez excessiva, fobia social ou algo do gênero). O Hospital das Clínicas, em SP, mantém inclusive um programa para viciados em internet. O Second Life não deu certo justamente por isto: não há uma segunda vida a ser vivida. Falei disso na resposta anterior.

7) Como profissional de comunicação quais as vantagens que uma segunda vida pode trazer para a sua área de atuação? No meu caso, pensando de forma imediatista, trouxe um emprego. Mas que logo se mostrou inviável – por isso busquei outros caminhos no jornal, até chegar ao Link. Hoje, acho que não há vantagens específicas para um jornalista usar o SL. Profissionalmente falando. Mesmo porque, em 2008, o assunto sumiu do agenda-setting.

8 ) Quais as funções que exercia dentro do SL? Como é seu personagem? As características dele são as mesmas que as suas ou você criou um personagem literalmente? Eu era repórter. Buscava notícias em blogs, eventos e outras fontes lá dentro para depois publicá-las no jornal Metanews, atualizado diariamente. Eu também editava o jornal. A aparência do meu personagem nada tem a ver comigo na vida real, mas o modo de agir, comportamento e visão de mundo são indissociáveis. A não ser no caso dos atores profissionais (digo isso porque também estudo teatro e interpretação dramática), ninguém consegue manter uma outra personalidade online 100% do tempo – por isso acredito não haver personagens, mas representações de nós mesmos.

9) Qual foi a intenção da empresa onde você trabalha ao querer colocar um jornalista dentro desse universo? Foi uma estratégia de marketing. Quando o SL estava no auge, no primeiro semestre de 2007, seria interessante para a marca “Estadão” ser vinculada a iniciativas digitais – um momento em que a empresa buscava contornar o gap que tinha em internet. Tanto é que logo depois houve a reformulação do estadao.com.br, o lançamento do Limão e do Território Eldorado. Outros produtos devem vir até o final deste ano (um deles aqui). Quem pode falar melhor sobre isso são os profissionais da área de Mercado Leitor do Grupo Estado.

10) Você fez muitas amizades dentro do SL ou manteve só contatos profissionais? Nenhuma amizade. Só contatos profissionais que, hoje, não existem mais, visto que já não atuo no SL.

Written by Lucas Pretti

outubro 15, 2008 às 22:07

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